“Bater ficha” é a esperança de muitos angolanos para escapar à pobreza

Nas ruas e periferias de Luanda, é comum encontrar grupos de pessoas — de diversas idades e classes sociais — reunidos em pontos de apostas desportivas, também conhecidas como “bater fichas”. Segundo constatação do Expansão, muitos apostadores veem nesses momentos de aposta uma forma de tentar fugir à pobreza, num contexto agravado pelo desemprego crescente.

EDACO
  • 19/08/2025
    “Bater ficha” é a esperança de muitos angolanos para escapar à pobreza

    O desemprego em Angola está na casa dos 29,4%, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE). Isso significa que, de cada 10 trabalhadores, oito sobrevivem por meio de biscates e outras formas de economia informal. Mesmo estando nesta condição, muitos apostam diariamente pelo menos 200 kwanzas, fortalecendo o setor de jogos sociais, que arrecadou 13,23 bilhões de kwanzas em receitas fiscais no primeiro semestre de 2025 — um aumento de 64,2% em relação a 2024.

    O ato de "bater ficha" exige técnica, conhecimento e sorte, segundo os próprios apostadores. Eles analisam estatísticas, probabilidades e resultados passados para tentar prever o próximo resultado desportivo. Essas apostas são regulamentadas pela Lei n.º 17/24 de 28 de outubro de 2024 e estão enquadradas nos jogos sociais legais, que incluem apostas desportivas à cota, corridas de cavalos e outras modalidades licenciadas — distintas dos jogos de azar em cassinos.

    Apesar das frequentes derrotas, a esperança persiste. Muitos apostadores continuam a apostar movidos pela expectativa de escapar à pobreza, realizar sonhos ou ter algum alívio financeiro para cobrir necessidades básicas. No entanto, essa prática também alimenta a dependência ao jogo — como relata o professor Daniel Damião, que confessa que prefere apostar os 200 kwanzas que tem do que comprar comida. Apesar das perdas, a esperança faz com que voltem às “fichas” com a expectativa de um dia ganhar milhões.

    Destaques

    • O desemprego em Angola atinge cerca de 29,4% da população ativa, segundo dados do INE.

    • Os jogos sociais movimentaram 13,23 bilhões de kwanzas em arrecadação no 1.º semestre de 2025, com crescimento interanual de 64,2%.

    • “Bater ficha” é visto por muitos como uma forma de escapar à pobreza, mas também pode alimentar o vício e trazer riscos sociais.